A maior floresta tropical do mundo, a Amazônia, está ameaçada. No Brasil não só a floresta está ameaçada, mas os povos indígenas e tradicionais que vivem nela. Um é parte do outro, um protege o outro e, por isso, um depende do outro de maneira orgânica. Desmatamento, queimadas, agropecuária, grilagem de terras, garimpos e mineração ilegais estão destruindo esse bioma tão importante para o equilíbrio climático da terra e para a preservação e conservação das riquezas ambientais, culturais e humanas no Brasil.
As ameaças estão se sobrepondo e aumentando em ritmo crescente nos últimos anos. Entre 2018 e 2020 estas ameaças já engoliram uma área de floresta amazônica quase do tamanho do território da Espanha, segundo o Atlas Amazônia Sob Pressão 2020. Os territórios indígenas e as áreas naturais de proteção têm sido os guardiões desse bioma. Cerca de 90% das áreas desmatadas ocorreram fora dos territórios indígenas, dizem alguns estudos. Por isso a importância da proteção desses territórios. Eles funcionam como barreiras contra o avanço do desmatamento. Também é fácil de entender porque os povos indígenas e suas terras têm sido sistematicamente ameaçados com extrema violência no Brasil. O desmatamento, as queimadas e a mineração têm avançado violentamente contra os territórios indígenas e as áreas naturais de preservação, as quais têm ficado cada vez mais desprotegidas e vulneráveis.
A contaminação dos rios e dos peixes, o envenenamento do solo e a destruição das florestas colocam em risco fauna e flora desse bioma tão rico em biodiversidade. A pandemia do Covid-19 também trouxe uma ameaça adicional à vida dos povos indígenas, especialmente com a presença ilegal dos garimpeiros.
É a partir deste contexto real de graves ameaças e deterioração das formas naturais de proteção da Amazônia que Aventuras de Kito: o mistério de Panã-panã, o segundo livro da Série Biomas, da MRN Editora, desenha um arco de esperança e reflexão. O mistério de Panã-panã é uma obra literária de ficção que apresenta de maneira livre e versátil elementos da cultura indígena brasileira (línguas, costumes, alimentação, rituais etc.). Nomes fictícios de pessoas, lugares e clãs se misturam com elementos da fauna e da flora da floresta amazônica e compõem uma história fantástica que une ficção e realidade. Não poderia ser diferente, porque a literatura é o encontro Postado por JUN 15 da imaginação com a realidade.
Como diz Guilherme Trielli na apresentação do livro: “Nesse sentido, a obra é denúncia — das ondas de
invasão de terras e extermínio de povos indígenas — e utopia — de um país em que um dia a diversidade e a alegria podem se transformar em valores sociais, um país em que a fonte sagrada de Panã-panã jamais correrá perigo e o talismã da alegria, a flauta numiatotó, poderá soar livremente, onde quiser, sempre que quiser.”
Panã-panã em Tupi significa um bando de borboletas, um arco-íris de borboletas coloridas que pintam o céu. No livro este arco-íris forma um portal que leva Kito e seus amigos para uma floresta de árvores enormes e cheia de mistério. Lá eles encontram Raoni, um jovem indígena que está preocupado com as ameaças que seu povo, os panã-panã, e a floresta vêm sofrendo. A ganância de madeireiros, garimpeiros, grileiros e a vingança dos muriçoca funcionam como combustível para essas ameaças. Anhangá, o espírito do mal da floresta, será invocado para destruir o guerreiro de Tupã e a fonte de vida e alegria dos panã-panã.
Esta é uma aventura eletrizante que vai nos levar para dentro da floresta e seus mistérios. Os clãs e seus totens, as mulheres guerreiras fantasmas, a flauta de numiatotó, o guerreiro de Tupã e a fonte sagrada de Panã-panã compõem este cenário de aventura e mistério. Kito, Teka e Cadu vão conhecer o mistério de Panã-panã a partir do olhar dos indígenas e descobrir que há muito mais por entre rios e matas, animais e lendas da floresta. Existem magia e vida que pulsam da mãe-terra. Por isso, todos precisam protegê-la. As belas ilustrações de Wander Lara, com um mapa rico em detalhes que apresenta todo o cenário de conflito, alimentam ainda mais a nossa imaginação. Curta esta aventura, molhe seus pés nos rios da imaginação e descubra um Brasil diverso e plural por entre o cheiro das folhas desta floresta feita de cores e palavras.
SÉRIE BIOMAS
A Série Biomas apresenta livros infanto-juvenis que abordam a temática das ameaças contemporâneas aos diferentes biomas brasileiros. A cada livro da Série, Kito e seus amigos vão viver aventuras fabulosas nos diferentes biomas do Brasil. Eles encontrarão novos amigos nos lugares por onde passarão e, com eles, enfrentarão ameaças, mistérios, enigmas e vilões. Características da fauna, da flora, da cultura, das pessoas e da magia desses lugares serão destacadas, compondo cenários e narrativas diversas desse Brasil gigante e plural
Por Marcos Nascimento